“Open Data”: Dados Abertos no mundo pós-COVID-19

Janete Ribeiro
4 min readJan 28, 2021

--

(Fonte: desconhecida)

A cultura dos dados abertos (Open Data) não é nova, vem sendo disseminada desde 1958 (Ano Internacional da Geofísica) quando o Conselho Internacional da Ciência, estabeleceu vários centros de dados mundiais para minimizar o risco de perda de dados e para maximizar a acessibilidade dos dados para pesquisa cientifica.

Esse processo amadureceu e com o advento da internet ganhou força e 2004, os Ministros da Ciência de todas as nações da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que inclui países mais desenvolvidos do mundo, assinaram uma declaração que afirma que todos os dados de arquivo com financiamento público devem ser disponibilizados ao público. Na sequência em 2007, a OCDE publicou os Princípios e Diretrizes para o acesso aos dados da investigação, financiados por fundos públicos como uma recomendação jurídica flexível. Desta forma, iniciou-se a abertura para cooperação do uso de dados entre diversos centros de pesquisa ao redor do mundo.

Podemos agora ver na prática os ganhos desta iniciativa, pois graças a cooperação entre centros de pesquisa e compartilhamento de dados, foi possível obtermos vacinas contra a COVID-19 em um espaço de tempo menor que os habituais 18 meses.

A criação de um repositório mundial de dados vem sendo avaliado e planejado há décadas. Nesta pandemia vimos como a informação com dados de qualidade pode salvar vidas, reduzir custos, maximizar a ajuda humanitária.

Nesta jornada da disseminação da política de dados abertos, foram criados 8 princípios dos dados abertos:

(Fonte: da imagem a autora)

1. Completo — Todos os dados públicos devem ser disponibilizados. Dados públicos são dados que não estão sujeitos a restrições de privacidade, segurança ou privilégios de acesso.

2. Primários — Os dados devem ser coletados na fonte com o maior nível de detalhamento possível, e não de forma agregada ou modificada.

3. Oportunidade — Sua disponibilidade deve ser feita tão rapidamente quanto necessário para preservar o valor dos dados.

4. Acessibilidade — Os dados devem estar disponíveis para a mais ampla gama de usuários e as mais diversas finalidades.

5. Processável por máquinas — Os dados devem ser razoavelmente estruturados de modo a permitir o processamento automatizado.

6. Não-discriminatório — Os dados devem estar disponíveis para qualquer pessoa, sem necessidade de registro.

7. Não-proprietário — Os dados devem estar disponíveis em um formato sobre o qual nenhuma entidade tem o controle exclusivo.

8. Licença livre — Os dados não estão sujeitos a quaisquer direitos de autor, patentes, marcas comerciais ou regulamento secreto. Pode ser permitida uma razoável privacidade e restrições de privilégio e segurança.

No Brasil, temos o Portal de Dados abertos, que disponibiliza dados oriundos das diversas autarquias do Governo Federal centralizados em uma única plataforma.

Este portal permite termos uma visão transparente dos serviços prestados a população, porém ainda necessita muito investimento na “Governança de Dados”, para tornar a atualização das informações mais ágeis (item 3 dos princípios dos Dados Abertos).

Na pandemia vimos as estatísticas epidemiológicas em painéis gerados pela OMS(Organização Mundial da Saúde)sintetizando informações recebidas de todos os países. No Brasil está sendo estruturada uma Rede Nacional de Saúde Digital (RNDS) utilizando-se das mais modernas tecnologias de segurança de dados (Blockchain) para garantir que os dados de cada cidadão, que utiliza os serviços do SUS ou o sistema privado tenham seu histórico médico digitalizado e possam ser compartilhados para o seu médico no momento do atendimento, com total garantia de segurança e privacidade. Esta rede está sendo testada no processo de vacinação COVID-19.

Em 2020 a OCDE através do projeto Paris21, que integra as iniciativas de análises estatísticas dos diversos “Escritórios Nacionais de Estatística” (NSO — National Statistical Offices) como o nosso IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), elaborou um documento com o intuito de padronizar a documentação relativa ao tratamento dos dados e modelagem deles no processo de desenvolvimentos dos indicadores estatísticos divulgados. Muitas nações migraram seu processo manual para digital sem revisar as etapas, e a documentação não fica clara para o uso compartilhado dos dados. Com a criação de um padrão “Data framework” para modelagem dos dados, isto facilitará o processo de colaboração entre as várias nações.

Como podem ver, a análise de dados, o compartilhamento de dados vai se tornar cada vez mais necessário no exercício de qualquer profissão e em todos os setores da economia. A “governança de dados”, que é este trabalho de documentar, catalogar e padronizar os dados, para que estes tenham “veracidade” e “qualidade” necessárias para suportar o processo decisório em todos os âmbitos da sociedade, vem se tornando cada vez mais essencial.

Por isso, devemos preparar nossa sociedade para transformação digital cultural, a educação é a base de tudo.

Fontes:

Conceito Open Data — https://pt.wikipedia.org/wiki/Dados_abertos

Open Data Org — https://opendataday.org/pt_br/

Open Knowledge Brasil org — www.ok.org.br

Dados Abertos Brasil — https://dados.gov.br/

RNDS SUS — https://rnds.saude.gov.br/

OCDE/Paris21 “Data Flow Assessment Framework” — https://paris21.org/dfaf

--

--

Janete Ribeiro
Janete Ribeiro

Written by Janete Ribeiro

AI/ML Specialist, Chief Data Officer Certified by MIT, MsC Business Administration, SENAC University Professor

No responses yet