O futuro do trabalho e o trabalho do futuro

Janete Ribeiro
5 min readJul 8, 2021
fonte: desconhecida

Quem não tem se perguntado nos últimos tempos sobre qual será o “Futuro do trabalho”? Ou ainda, “qual será o trabalho do futuro?”

A última pesquisa elaborada pelo Fórum Econômico Mundial (WEF) em 2020, revela o seguinte cenário:

“…em média 15% da força de trabalho das empresas está em risco de desaparecer até 2025, e em média para 6% destas posições,espera-se que os trabalhadores sejam totalmente dispensados.”

A revolução da indústria 4.0 já vinha ocorrendo desde 2010 e já era previsível que a automação de vários processos causaria tais mudanças no cenário econômico mundial. Porém a pandemia acelerou esse processo e hoje temos a visão clara de como isso já ocorre até nos países de menor evolução tecnológica.

A retomada da economia vem acontecendo paulatinamente, mas já dá sinais que muito do que foi assimilado durante a pandemia vai continuar após a grande crise sanitária mundial.

Listamos a seguir alguns desses aspectos:

· O trabalho remoto;

· Automação de processos;

· Economia digital;

Todos estes aspectos estão baseados em uma grande transformação que já vinha ocorrendo anteriormente, a transformação digital.

Se todos os movimentos de reação e sustentação econômica migram para bases altamente tecnológicas o que será das atividades que até então eram executadas de pôr meios não digitais? O que será das profissões que não exigiam qualificação acadêmica?

O relatório do WEF mencionado anteriormente, também fala das iniciativas das empresas em requalificar seus quadros de funcionários para as novas profissões que surgem com o desaparecimento das atividades massivamente manuais. Porém, haverá sim funções e pessoas que não serão reaproveitadas tão facilmente.

Os mais afetados nesse processo de transição, segundo o WEF e o relatório da consultoria Mckinsey sobre o trabalho no pós-pandemia são os jovens e as mulheres.

Os jovens tiveram uma perda considerável no que tange à educação, pois as instituições de ensino na sua maioria não estavam preparadas nem em termos de infraestrutura tecnológica bem como na adequação da forma de ensino para suprir as demandas a distância. Isso acentuou ainda mais as diferenças econômicas entre jovens com maior ou menor poder econômico. As mulheres por sua vez, culturalmente são mais vulneráveis a saída do mercado de trabalho por acumularem as tarefas de cuidados com familiares, sejam filhos ou parentes idosos, que durante a crise sanitária demandavam mais cuidados.

Também esses dois grupos historicamente são alocados nas funções de atendimento ao público, atividades burocráticas e massivamente repetitivas. Sendo assim, atividades que são facilmente executadas através de automação de processos.

Diante deste cenário, o futuro do trabalho abre espaço para profissionais diretamente ligados às novas tecnologias que agora permeiam todos os setores da economia, da saúde ao agronegócio, todos utilizam meios digitais no seu cotidiano.

Segundo estudo da Mckinsey, em consequência da concentração do crescimento de empregos em ocupações maior especialização e da redução de ocupações de baixa qualificação, a escala e a natureza das transições da força de trabalho demandadas nos próximos anos serão desafiadoras. Mesmo nos países mais avançados, mais de 100 milhões de trabalhadores, ou seja, um em cada 16, precisarão encontrar outra ocupação até 2030 de acordo com o cenário pós-COVID-19, como mostra o quadro abaixo:

Fonte: McKinsey

As profissões relativas a análise de dados e automação de processos que envolvem as tecnologias de BIG Data, Analytics e Inteligencia Artificial são as mais demandadas atualmente.

Existem diversos movimentos das empresas de tecnologia e de universidades e organizações do terceiro setor, buscando meios de qualificar a mão-de-obra que atualmente exerce as funções que desaparecerão. Porém, falta uma peça para fazer esse “elo” entre as empresas e instituições que querem capacitar as pessoas que precisam ser capacitadas.

fonte: wikihow

Muitos tem pouca ou nenhuma condição de acessar cursos online, no máximo através do celular com pacotes de dados limitados. Além desse problema básico de infraestrutura ainda temos problemas graves de conectividade pelo Brasil a fora, as regiões onde as pessoas de baixa renda residem quase não tem sinal de internet.

Outro ponto mais fundamental ainda, é o fato de termos um contingente enorme de totalmente analfabetos ou analfabetos funcionais, aqueles que não conseguem fazer uma compreensão de texto e assimilar lógicas matemáticas.

fonte: Nordeste noticias

Na última pesquisa do IBGE (Amostra de Domicílios Contínua realizada em 2019), cerca de 11 milhões de brasileiros eram considerados analfabetos. Isto representa 6,6% da população com mais de 15 anos que não sabe ler nem escrever uma simples mensagem. Esta realidade está mais visível no Nordeste do país, onde 13,9% da população é analfabeta. Em seguida, aparece a região Norte com 7,6%, Centro-Oeste com 4,9% e os menores índices estão no Sul e Sudeste com 3,3%. Quanto ao analfabetismo funcional o problema é ainda mais grave, 3 em cada 10 brasileiros, na faixa de 15 a 64 anos, são considerados analfabetos funcionais, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional, que é um levantamento nacional feito pelo Instituto Paulo Montenegro, em parceria com a ONG Ação Educativa.

Com esse cenário na educação, como vamos capacitar esse contingente de pessoas em pensamento crítico e capacidade analítica?

Fonte: Linkedin

Tal missão exige um comprometimento de toda sociedade, pois todos serão impactados com a perda deste contingente de pessoas no mercado de trabalho.

Ser o elo entre quem precisa aprender e quem ensina é missão de todos nós. Cada um pode de alguma forma contribuir para inclusão digital de quem estiver mais próximo de você.

No próximo artigo falaremos das profissões do futuro, para quem estiver começando.

Fontes:

WEF — Future of Jobs Report — 2020 — http://www3.weforum.org/docs/WEF_Future_of_Jobs_2020.pdf

Site Exame — Covid fará com que 100 milhões de pessoas mudem de profissão até 2030 — https://exame.com/carreira/covid-fara-com-que-100-milhoes-de-pessoas-mudem-de-profissao-ate-2030/

Site McKinsey — O futuro do trabalho pós-COVID-19 — https://www.mckinsey.com/featured-insights/future-of-work/the-future-of-work-after-covid-19/pt-BR

Site Melhor escola — Analfabetismo no Brasil: um retrato da desigualdade — https://www.melhorescola.com.br/artigos/analfabetismo-no-brasil-um-retrato-da-desigualdade

Site — Ação Educativa — https://acaoeducativa.org.br/

--

--

Janete Ribeiro

Analytics Data Services CEO, Chief Data Officer Certified by MIT, MsC Business Administration, SENAC University Professor