Inclusão Digital

Janete Ribeiro
4 min readFeb 4, 2025

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Inclusão digital tem sido muito falada ao redor do mundo, porém a cada dia que se passa o abismo que separa as pessoas que dominam as tecnologias digitais e as que apenas são usuários ou simplesmente ouvem falar a respeito, se torna maior.

Um estudo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), de 2024 aponta que a demanda por profissionais de IA está aumentando rapidamente. Em média, a parcela de vagas online que exigem habilidades de IA aumentou em 33%, em países com parcelas inicialmente relativamente baixas de vagas online que exigem habilidades de IA, como Espanha e Nova Zelândia, as parcelas aumentaram em 155% e 150%, respectivamente.

Isto implica na necessidade de desenvolvermos mais profissionais com conhecimentos como usuários destas tecnologias, mas como desenvolvedores delas.

Muitos temem que a inteligência artificial vá ocupar suas vagas de trabalho, porém como já ocorreu anteriormente, estamos migrando de etapas no trabalho produtivo. Como foi na revolução industrial, agora o é na revolução digital.

Por isso o “letramento digital” se faz necessário para o processo migratório de funções meramente burocráticas, repetitivas para funções que demandam mais criatividade, senso crítico e capacidade de análise. Se na revolução industrial, fomos “mecanizados”, decorando textos, datas e processos para atender, agora devemos entregar estas atividades aos algoritmos e voltarmos a pensar.

Na educação está o maior desafio para tornar a inclusão digital realmente viável. No livro “Uso da Inteligência Artificial e a inclusão digital nos serviços públicos”, (Murta, et al. pág. 322), é mencionado o plano do governo brasileiro e-Digital ciclo 2022–2026, que em seus pilares tinha: Infraestrutura e acesso a TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação), Pesquisa, desenvolvimento e inovação, Confiança no ambiente digital, Educação e capacitação profissional e Dimensão Internacional. Porém, concluímos que apesar do plano ter sido bem elaborado, com estratégia claras e mecanismos de acompanhamento bem definidos, a execução não ocorreu como planejado. Estamos ao final do ciclo e quanto ao pilar básico de “Infraestrutura e acesso a TIC”, segundo dados da última Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios — PNAD Contínua, divulgado pelo IBGE, temos 28 milhões de pessoas sem conectividade no país. Ou seja, não tem sequer acesso a internet. Segundo dados do Censo Escolar 2023, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira do Ministério da Educação (Inep/MEC), indicavam que 7.912 escolas públicas não tinham acesso a água potável e 6.363 escolas não contavam com esgotamento sanitário; 48% das escolas públicas brasileiras não possuíam bibliotecas ou salas de leitura, enquanto apenas 27% tinham salas de recursos multifuncionais. Olhando para estes números podemos dimensionar o quão distantes estamos em relação ao tema Educação e capacitação profissional. Neste ponto, a iniciativa privada tem um papel importantíssimo.

A organização sem fins lucrativos GIFE (Grupo de Institutos Fundações e Empresas) em seu último Censo GIFE (2022–2023, apontava que o valor total do Investimento Social Privado no país chegou a R$ 4,8 bilhões, com quase R$ 2 bilhões do volume investido, estruturados em educação.

Por outro lado, uma pesquisa realizada pela Ipsos — empresa especializada em pesquisa de mercado e opinião pública — ouviu 21 mil pessoas em 21 países e mostrou que o Brasil estava acima da média global no uso de inteligência artificial (IA) em 2024, com 54% dos brasileiros relatando que usaram IA generativa, em comparação com a média global de 48%. A mesma pesquisa apontou que 60% dos brasileiros acreditavam que a IA gerará maiores oportunidades de emprego, em comparação com os 49% no nível global. Com a confiança dos brasileiros nas mudanças laborais relacionadas com o crescimento da IA ​​de 62% a 68% entre 2023 e 2024, essa tecnologia é promissora porque contribui para diversas áreas da vida. A média mundial de otimismo é de 57%.

Mas os resultados dos alunos brasileiros no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2024, não foram tão animadores. O Brasil ocupou a 44ª posição entre 56 países, com uma média de 23 pontos em uma escala de 0 a 60, bem abaixo da média da OCDE, 33 pontos. Apenas 10,3% dos estudantes brasileiros alcançaram níveis elevados de desempenho criativo, enquanto 54,3% não atingiram nem o mínimo esperado.

Imagem gerada por Inteligência Artificial

O brasileiro acredita que vai vencer grandes obstáculos, a falta de acesso a internet, o analfabetismo funcional, digital até as dificuldades financeiras. Muitas ações têm sido feitas neste sentido, por entidades governamentais, não governamentais e instituições privadas. Cursos on-line gratuitos, feiras, inclusão de disciplinas como robótica e inteligência artificial no ensino médio em escolas públicas.

Mas o sistema educacional do país tem na sua estrutura de currículos predominada por métodos tradicionais de ensino, que priorizam a memorização e a reprodução de conteúdo em detrimento do pensamento crítico e da experimentação. Deixando atividades criativas limitadas a disciplinas específicas, como artes ou literatura, sem serem aplicadas de forma interdisciplinar ou contextualizada.

Os métodos tradicionais serviam bem a revolução industrial, mas na revolução digital precisamos desenvolver a criatividade e o senso crítico, por essa razão as atividades interdisciplinares se tornaram mais importantes.

Mas estamos correndo contra o tempo, o impacto das novas tecnologias na economia global já é grande e tende a se tornar cada vez mais fundamental para estabilidade econômica e social dos países. E a matéria-prima principal desta nova economia é o intelecto humano, por mais estranho que possa parecer.

Bibliografia:

Programme for International Student Assessment (PISA) — https://www.oecd.org/en/about/programmes/pisa.html

Grupo de Fundações Institutos e Empresas GIFE — https://gife.org.br

Ipsos AI Monitor — https://www.ipsos.com/pt-br/ipsos-ai-monitor-2024 (02/02/2025)

PNAD IBGE — https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-mensal.html

Borgonovi et al. (2023), ”Emerging trends in AI skill demand across 14 OECD countries”, https://doi.org/10.1787/7c691b9a-en.

O uso da Inteligência artificial e inclusão digital nos serviços públicos: MURTA, Camila; et al; 2024, BOOKBA, São Paulo

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Written by Janete Ribeiro

AI/ML Specialist, Chief Data Officer Certified by MIT, MsC Business Administration, SENAC University Professor

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